A maçã, o menino e o mundo

fonte: Patr!c!a via Visual hunt/CCBY-NC

Eu tenho muita sorte de ter os amigos que tenho… sem eles meu mundo seria tão miserável pequeno (minhas viagens seriam Brasília – Nordeste, Nordeste – Brasília). Sempre achei que atravessar a fronteira do meu país era como cair num poço sem fundo (vocês acreditam que eu me achava indigno de conhecer outra cultura, minhas mãos suavam em pensar que eu teria que falar com um estrangeiro, parecia que, em algum momento, eu iria ofendê-lo ou cometer uma gafe bem constrangedora).

Por volta dos meus 7 anos, descobri que o irmão mais velho do meu vizinho morava nos Estados Unidos. Certa manhã, a molecada toda estava na rua reunida jogando Bete, justamente na frente da casa do vizinho o qual o irmão mais velho morava nos Estados Unidos, e estava lá de visita. “Nossa!” – pensava eu. Nunca estive tão perto de conhecer alguém vindo de um lugar (pra mim) inalcançável, de um lugar que me dava medo e fascínio ao mesmo tempo. Tudo que vinha de fora pra mim era algo extraordinário, à beira da perfeição… Então, não pensei duas vezes; corri para a minha casa, peguei a maça mais bonita, deixei-a brilhando, penteei meus cabelos rebeldes com um creme super grudento e fui pra rua tentar parecer que aqui, no Brasil, tínhamos dignidade (ou que podíamos parecer com os garotos dos filmes da Sessão da Tarde).

Vinte e três anos depois, eu consegui! Saí do meu país (por apenas alguns metros, mas saí). Atravessei a fronteira do Brasil com o Paraguai para comprar bugigangas. Não era bem o que eu imaginava… no Paraguai tudo era muito mais feio, pobre e violento que no Brasil, mas mesmo assim foi mágico.

Apenas em 2013, nos meus 32 anos, minha primeira viagem internacional de verdade iria acontecer. Eu tinha acabado de pedir férias da agência de publicidade em que eu trabalhava e meu roteiro era apenas ir para o interior do Mato Grosso (Barra do Garças) e uma praia do litoral paraense (Salinópolis), mas dois grandes e velhos amigos me convenceram a voltar mais cedo do Pará e embarcar com eles para os EUA. “Cara*&^! Que loucura! Minha primeira viagem pro exterior e logo pra Miami, Orlando e Nova Iorque”.

É isso! Era tudo o que eu imaginava e mais um pouco! Viajei, engordei, comprei um pouco, sonhei acordado, comprei mais pouco, foi o melhor dinheiro gasto da minha vida! Viciei! O mundo que eu conhecia era pequeno e cresceu e o mundo que eu tinha medo era grande e diminuiu…

Ah! Detalhe: um guarda da imigração me deu muita bronca (em inglês e espanhol) e eu cometi muitas gafes constrangedoras, mas isso são outras histórias.

Um obrigado aos amigos de viagens inesquecíveis: Plínio, Gus, Leuma, as gêmeas do meu coração Flá & Fer, Ely, Kdu e Marcus Sandes, Amandita, Gabys (e se eu esqueci alguém me perdoe ou comente).

Eu, na loja da Apple na 5ª Avenida me sentindo o pinto no lixo.
Eu, na loja da Apple, na 5ª Avenida em NYC me sentindo o pinto no lixo.

 

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Quase todos meus grandes amigos de viagem…

36 respostas para “A maçã, o menino e o mundo”

  1. Acho que me senti dessa mesma maneira quando viajei pela primeira vez, digo, não a do Paraguai, mas a dos Estados Unidos, nossa primeira vez foi para Buenos Aires e foi tão incrível que até hoje é uma das minhas cidades preferidas, obrigada por colaborar e pela sua presença aqui no Quarto de Viagem, que venham muitas viagens, crônicas e divagações..

  2. Lucas, bem-vindo!! Espero que você possa contribuir grandemente com os seus conhecimentos, e que não são poucos. Você é uma ótima pessoa e um amigo, vamos agitar esse blog e que venham muitas viagens! Próximo destino, Ásia 🙂

  3. Uau! Isso foi realmente lindo! Ainda não viajei para fora (dizem que sou muito nova), mas a cada história que leio ou escuto sobre conhecer o mundo, essa vontade só cresce cada vez mais. Foi realmente inspirador.

    1. Que bom que gostou Beatriz! Olha, se você tiver condições de viajar, viaje pois em cada idade você terá uma sensação única. A vida é uma só! 😉

    1. CARLOS ROBERTO E GLEIDYS, assim fico envaidecido! 🙂
      Obrigado pelo elogio, me dá mais ânimo em continuar escrevendo… espero que continue lendo! Abraço!

  4. Lembro até hoje o quanto me senti apavorada na primeira vez a Disney, quando não entendia uma palavra de inglês! Grudei nos meus amigos a viagem inteira e achei que esse tipo de coisa não era para mim. Quando tentei de novo vicei também <3 Ficou incrível o texto, Lucas!

    1. Obrigado Alyssa… essa adrenalina da primeira viagem não se repete na mesma intensidade… o bom é que fica na memória e na nossa história como uma coisa boa… (pelo menos pra mim foi, hehe)…

  5. Que legal, Lucas! É engraçado os sentimentos que essas coisas despertam na gente. Eu passei mil vergonhas na minha primeira viagem internacional, mas hoje acabam fazendo parte da história e acho divertido, hahaha.

  6. Uma vez mordido pelo bichinho da viagem, você vicia e não para mais! heheh! Minha primeira viagem internacional foi pra Buenos Aires, assim como a Flávia, e também foi mágico! Mas, viajar sempre mantém aquele espirito de “primeira vez” seja pra onde for… isso que é o legal!

    1. Verdade Adriana, viajar é viciante… e bons tempos de quando vivíamos na rua das 8h às 20h sem nos preocuparmos com violência… eram só brincadeiras…

    1. Ah! Sim… foi mágico… mas confesso que o que mais gostei foi as compras… porém, todo lugar novo tem o seu encanto… o Paraguai foi um pouco mais pitoresco… seguranças nas portas das lojas armados com pistolas… carros e motos sem placas… o fato deu entender o que me diziam em espanhol e eles não entenderem meu português… gasolina muito barata… achei inusitado também o fato do lado brasileiro estar bem mais arrumadinho que o paraguaio…

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